Diálogo com os Astros por Luís Resina
A propósito do artigo do dia 26 de Dezembro do Jornal Público escrito por Tiago Ramalho na secção Ciência e Ambiente com destaque de duas páginas nesse jornal e com participação de vários autores.
O título do artigo é o seguinte: “Por que razão a astrologia não tem nenhum fundamento científico”
Vou sublinhar e comentar algumas frases dos autores, estabelecendo um diálogo com os mesmos.
-“Mas comecemos pelo óbvio: a astrologia não tem qualquer base científica ou racional”.
Em primeiro lugar se o colunista se refere à astrologia popular com base nos horóscopos da media, sejam jornais ou revistas, dou-lhe todo o meu apoio e concordo plenamente. Há que lembrar que este tipo de divulgação começou nos começos do século XX através da própria imprensa, a maior parte dos horóscopos que foram publicados eram feitos por jornalistas.
Mas se falarmos de astrologia erudita ou astrosofia, esta raramente veio a público e a maior parte dos leitores incluindo os do domínio científico a desconhecem.
Nesse sentido a afirmação citada é válida no caso da astrologia popular e é uma falácia para a astrologia erudita e passo a explicar porquê: a base científica aqui reclamada refere-se à ciência desenvolvida a partir do século XVII com o racionalismo, o positivismo, o mecanicismo e o materialismo até ao século XX altura em que Einstein e a Física Quântica desmontam os alicerces da velha ordem e criam um novo paradigma na ciência e na filosofia.
Por isso quando falamos de ciência, é melhor designarmos por ciência oficial assente na quantificação, na estatística, na lógica, no pensamento racional e linear, atributos preponderantes do Hemisfério Esquerdo do cérebro que procura fundamento e segurança nas designadas ciências exatas. Se sairmos destes parâmetros e entrarmos no domínio das ciências humanas já fica difícil definir o que é ou não científico na velha acepção do termo. E não foi por causa disso que físicos e astrónomos como Copérnico, Tycho Brahe, Kepler e Newton a deixaram de a utilizar no seu dia-a-dia.
Quanto à inexistência do lado racional da astrologia, seria o mesmo que dizer que ela é apenas mitológica sem nenhuma base na realidade concreta o que é simplesmente um absurdo! A astrologia e a astronomia foram e são irmãs inseparáveis, uma é hoje uma ciência exata a outra é uma ciência humana, que confere sentido e significado ao mundo dos fenómenos na sua relação com o Ser, uma filha da gnose e da epistemologia no sentido grego, onde o saber tradicional ganhou novas formas com conteúdos filosóficos e esotéricos, nomeadamente no período helénico em Alexandria.
-“As previsões, ou melhor, as adivinhações são geralmente vagas e raramente certeiras. Os astros já não se alinham da forma como estavam há 2000 anos, uma vez que o mapa do Zodíaco utilizado pela astrologia baseia-se na posição das constelações numa região do céu…”
A astrologia pode ser empregue para prever tal como se faz no estudo dos ciclos económicos, mas prever não é predizer, nem assegurar que algo irá inevitavelmente acontecer. A astrologia serve para orientar e aconselhar quer em relação aos biorritmos internos quer aos momentos propícios para executar certas ações, seja para compreender a lei da atração, os resultados da lei de causa e efeito, ou os fenómenos de sincronicidade nas nossas vidas.
A adivinhação, não passa de uma crendice de que somos completamente submetidos a um destino fixo e inexorável.
Sim os astros estão sempre em movimento e em qualquer tempo da história não estão alinhados como há 2000 anos, sim isso é uma verdade de Lapalice! Não, o mapa utilizado pela Astrologia Humanista e Transpessoal baseia-se na astrologia Tropical, não se baseia nas Constelações, nesse sentido não há contradição nenhuma.
-"Sempre que foram testadas as previsões astrológicas ou mesmo o emparelhamento de casais consoante os signos, a ciência demonstrou que não existe fundamento nesta prática".
Podem-me demonstrar quais os testes efetuados e com que critérios, e quais os astros selecionados?
Conheço os estudos de Michel Gauquelin e Carl Jung que verificaram haver uma correlação dita científica entre a influência astral e os casos estudados.
-“O conceito de “Mercúrio retrógrado”, usado pela astrologia, quando o planeta aparenta andar para trás como símbolo de mau prenúncio, é algo que do ponto de vista da física é impossível”.
Fiquei sem saber o que é impossível na perspetiva apresentada já que vi este fenómeno aparente ser explicado num vídeo de astronomia no Youtube, ou será que a física já se pronuncia, dizendo que a experiência ilusória e subjetiva do movimento do astro é sinal de mau prenúncio! Para mim, um movimento retrógrado é natural e faz parte do movimento aparente do astro.
-“A astrologia não é, no entanto, ciência. “Prevalece uma cultura astrológica, que foi arredada pela astronomia com o método científico, que surgiu no século XVII. Portanto, a partir do século XVIII deixou de ter qualquer validade científica”, começa por dizer o físico Carlos Fiolhais, antigo professor da Universidade de Coimbra, que refere duas razões principais para não ser ciência. “Primeiro, não tem prova empírica. E não é por falta de testes”.
Aconselho a lerem o trabalho científico realizado na década de 70 por Michel Gauquelin “Cosmic Influences on Human Behavior: The Planetary Factors in Personality o livro está na Amazon.
-“Agora, a segunda. “É uma razão teórica: não há influência dos astros”.
Se a razão é teórica onde está a prova dos factos, seria o mesmo que dizer que Deus não existe! Ou como diria Einstein - Deus não joga aos dados - em resposta a Max Born.
-“Os astrólogos antigos, que definiram o mapa dos astros, não estavam cientes de uma oscilação na Terra que perturbaria este sistema com o passar dos séculos: o movimento de precessão”.
Não me parece uma frase totalmente verdadeira, primeiro porque Hiparco de Rodes no Século II A.C – já preconizava o movimento de precessão dos equinócios e o filósofo Platão também referia-se ao Grande Ano de 13000 anos cuja duração é metade do ciclo processional.
- “O Pólo Norte não está sempre orientado para a mesma direção e que estas mudanças na posição do eixo terrestre, girando sobre si próprio como um pião e completando uma volta ao fim de cerca de 26 mil anos, vão ajustando a posição do que vemos no céu. Ao longo dos últimos 2500 anos, isto traduziu-se numa deslocação para oeste de 36 graus – daí as diferenças nas datas actualizadas dos signos”.
O Ciclo de 26000 anos rebate-se no sistema equatorial e eclíptico ao nível do Ponto Vernal e também no eixo dos Polos. Estes dois eixos giram 360º em 26000 anos, só que ao nível do sistema Eclítica/Equador dividimos por 12 signos, já em relação aos polos não existem signos mas sim alinhamentos com as estrelas polares, e a atual é a estrela Polaris na Constelação da Ursa Menor.
-“O que é curioso é que a ciência triunfou, mas isso não foi o fim da astrologia. É um paradoxo que continua. Os livros de astrologia e de astronomia coexistem nas estantes lado a lado, como se as pessoas que os arrumam não soubessem distingui-los”, atira Carlos Fiolhais”.
A ciência triunfou no que diz respeito ao experimentalismo associado ao hemisfério esquerdo, as provas e os factos concretos são uteis para o dia-a-dia, mas não explicam a realidade, e a realidade é tudo o que existe! O sonho, a imaginação, as crenças a espiritualidade é tudo útil para o desenvolvimento pessoal, mas isso não é do domínio científico, pertence à esfera do subjetivo que assenta muito melhor na tipologia do hemisfério direito do cérebro.
-“Não está a diminuir a crença na astrologia – antes pelo contrário. E isso nota-se em alturas de crise. Temos a crise do clima, a guerra, crise económica. A existência de crises faz aumentar vários tipos de crença. No início do século ou em 2010, por exemplo, o número de crentes na astrologia era menor do que é hoje”, nota Fiolhais.
Temos aqui um outro depoimento subjetivo, não só em Lisboa em 2010 o número de simpatizantes e alunos de astrologia era maior que o atual, os tempos áureos do Centro Quíron de Maria Flávia de Monsaraz, como na década de 80, o astrólogo humanista Dane Rudhyar teve uma ovação de pé numa conferência com cerca de 10000 pessoas nos Estados Unidos.
-"Do entretenimento ao perigo"
-“Esta crença deve corresponder a algum impulso humano, porque parece muito difícil de erradicar, e acredito que nunca o será, porque as pessoas gostam de acreditar em coisas, gostam de que alguém lhes diga algo sobre o futuro”, observa Carlos Fiolhais, que esclarece não querer proibir esta prática”.
O perigo nesta frase e na afirmação é justamente alguém pensar que pode proibir a prática da astrologia, ou de outro saber tradicional como se ainda estivéssemos nos tempos da velha senhora!
-“Como tema não científico até pode ter interesse – e nem tudo tem de ser científico. Mas tem de haver uma linha de demarcação muito forte. Fazer a astrologia passar por ciência é uma intrujice, uma aldrabice, é como vender banha da cobra”, afirma o físico.
Que eu saiba, não conheço movimentos ou escolas que queiram fazer da astrologia uma ciência tal como ela é praticada nos laboratórios e nas universidades, isso também não implica que não possamos utilizar o método científico na análise dos diversos elementos do mapa astral. De qualquer modo, e por muitas razões, as questões que este saber trás à tona, com todo o potencial para o estudo da psique humana, pela capacidade de integrar pressupostos da física quântica, por uma linguagem também ela simbólica que articula os princípios das leis universais com a teoria da relatividade de Einstein e com a lei da Sincronicidade elaborada por Carl Jung, por tudo isso, nunca poderia ser intitulada uma ciência aos olhos da modernidade, mas sim algo semelhante a uma meta-ciência, a uma ficção científica para a qual a ciência um dia terá que dialogar e conviver, já que a física e a metafisica terão um dia que se voltar a reencontrar.
L.R
Lx, 29-12-22
Jorge Almeida – Opinião
Artigo - Como a Ciência explica o apelo dos Horóscopos
-“Mas será que a ciência consegue explicar este apelo dos horóscopos?”
Qual das ciências, se for a Psicologia penso que as mentes abertas encontrarão respostas.
- “Para começar, há que olhar para o modo como os horóscopos são escritos – são tipicamente uma descrição suficientemente vaga que inclui eventos e traços de personalidade aplicáveis ao comum dos mortais…”
Concordo, noventa por cento do que se publica nos media é exatamente isso, deviam limitar ou explicar em nota esse tipo de interpretações desqualificadas.
- “Um exemplo é a tendência para explicar o nosso comportamento como dependente de fatores externos…
“Este viés de atribuição confere à astrologia ainda mais poder – que melhor fator externo do que o alinhamento dos astros para explicar os nossos comportamentos?”
Na astrologia Humanista e Transpessoal é exatamente ao contrário, não são os fatores externos aqueles que nos condicionam mais, são os internos, aqueles que são inatos e aparecem logo à nascença traçados no mapa astral. Ao longo do tempo vamos trabalhando com as nossas predisposições através da consciência, o exercício do livre-arbítrio é neste caso proporcional ao grau de consciência. É por sermos como somos que atraímos um determinado dia e hora de nascimento e um determinado mapa astral (destino) e não o contrário!
-"Claro está que me parece que a sociedade se deve defender destes esoterismos, assim como das fake news e dos populismos. Isto passa por mais e melhor informação científica – por um verdadeiro investimento na literacia científica. Seria, por exemplo, importante que a ciência tomasse o lugar da pseudociência na comunicação social”.
Não entendo bem a frase, a meu ver seria possível falar de exoterismos mas nunca de esoterismos que requerem que cada indivíduo se coloque em causa, e faça um trabalho interno cuja acentuação reside no propósito espiritual do Ser.
-“Seria, por exemplo, importante que a ciência tomasse o lugar da pseudociência na comunicação social. E este é o oráculo do “professor” Jorge: em 2023 não se deixem levar pelos vossos vieses cognitivos e venham conhecer mais ciência”!
Parece que o domínio científico sofre do mesmo mal que o da astrologia erudita, os media e os sistemas vigentes não estão muito interessados neles. Os números, o lucro, e o espetáculo falam mais alto, afinal os velhos mitos ainda estão bem vivos, o futebol e os negócios de massa continuam a sobrepor-se ao indivíduo, à ciência e à filosofia, ainda não saímos do reino da quantidade como diria um esoterista de nome René Guenon.
Para finalizar gostaria de dizer que o ramo da astrologia que preconizo nunca seria uma ciência na acepção moderna do termo, seria mais um saber, uma meta-ciência no sentido em que toda a filosofia perene contribui para o desenvolvimento da ciência sempre em contante mutação ao longo da história.
Lx, 30-12-22
Luís R. Baldaya
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